Moda sustentável – como escolher os tecidos

Você acredita na moda sustentável?

Procurar por fibras sustentáveis não é fácil. Existe um monte de dúvidas e confusão sobre as informações e dados. E fazer uma busca na internet pode virar quase uma tese em química têxtil para tentar entender um pouco… Se você quer ser mais ecologicamente correto com suas costuras e produtos dá uma olhada no conteúdo desse post.

A gente sabe que a indústria da moda é uma das mais poluentes do mundo. Que as roupas são descartadas incorretamente e causam mais e mais danos ao meio ambiente. Quem é impactado por esses fatos tende a buscar opções menos agressivas em seus projetos, roupas e costuras. Mas ai as dúvidas começam: algodão orgânico é melhor que o algodão comum? Viscose é tudo igual? E as fibras de bambu? A seda é sustentável? O que são tecidos tecnológicos?

Se você se interessa por tecidos e quer conhecer mais sobre eles, sobre as fibras, construções e etc. Confere esse material que montei.

Por isso separei um resumo de algumas fibras para te ajudar a iluminar o caminho da sustentabilidade na moda.


Algodão

O algodão é um material barato e fácil de costurar. A melhor opção para a maioria das costuras, principalmente para iniciantes. Na hora de passar ele vinca e assenta bem, tem em infinitos tipos de tecidos, grossos ou finos, cores, estampas, o que sua imaginação desejar.

Um tecido 100% algodão, normalmente, é biodegradável e se decompõe com facilidade, é só ver os panos de chão embolorando quando úmidos, é um processo de decomposição. Porém, quando misturado com outras fibras começa o problema, principalmente quando misturado com fibras sintéticas. Não dá para separar e reciclar e somente parte do tecido é biodegradável, ou seja, vai ficar resíduos no meio ambiente.

A produção do algodão também demanda muita água e uso de agrotóxicos. Cerca de 16% dos agrotóxicos no mundo são usados na produção do algodão. 1 kg de algodão (aproximadamente o que precisa para fazer uma camisa) usar 1000 litros de água em sua fabricação, e essa água dificilmente é reciclada ou reutilizada por conta dos produtos químicos. Fábricas em países com menos fiscalização ainda jogam essa água poluída em rios sem nenhum tratamento, prejudicando toda a flora e fauna local.

Mas parte do descarte da sua produção (galhos, folhas, sementes) podem ser reaproveitados e usados em outras fibras como viscose, rayon, liocel. Diminuindo o volume de perdas na produção do algodão. O algodão reciclado também é uma alternativa viável e mais fácil de encontrar. A ideia é que se usa menos água e químicas para reciclar o algodão do que produzir um novo.

E por fim temos o algodão orgânico. Esses tecidos são feitos de algodoeiros que foram plantados sem o uso de agrotóxicos e de forma não danosa ao meio ambiente. Lógico que essas plantações são menores do que as convencionais, o tipo de colheita é manual e esse tipo de algodão acaba ficando mais caro do que o convencional.


Essa fibra é única em sua classe, a lã é a fibra produzida a partir do pelo dos animais. Pode ser obtida de diferentes tipos de animais (até mesmo urso ou rato), nenhum deles morre, possui características antimicrobianas naturais, pois servia para proteger o animal. É biodegradável e necessita do mínimo de energia e consumo de água para fazer fibras e tecidos.

Se é preciso de uma área muito grande para criar o animal (latifúndios), esse tipo de criação não é benéfica ao meio ambiente. Tem também a criação abusiva dos animais somente para obtenção da lã por alguns produtores. Além do fato de alguns tipos de lã exigirem que um tipo específico de animal seja criado em condições e locais específicos, a caxemira por exemplo. Isso torna pouco interessante para os criadores manter o fornecimento dessas fibras tornando-as mais caras e exclusivas.

Atualmente existe uma preocupação com a origem e rastreabilidade da lã, para saber as condições que os animais são criados, incentivar os criadores locais a ter padrões mínimos de qualidade e cuidado com os animais. Na Europa principalmente, existe certificações de produtores de lã, e as empresas levam essas certificações muito a sério, pois garante a qualidade e agrega valor ao material que elas entregam.

Um item que tem se tornado mais popular é a lã reciclada, mais ainda é um pouco difícil de ser encontrada. Mas pode ser uma alternativa mais acessível. A vantagem da lã é que se bem cuidada ela é um tecido muito durável, podendo durar décadas sem perder em qualidade.


Viscose, Rayon e bambu

Quando a gente fala em caimento não tem como não falar da viscose, ela é a rainha do caimento. Todos se apaixonam por ela nesse sentido. Vale lembrar que viscose é uma fibra de celulose e ela pode ser feita de diferentes materiais e diferentes formas. Sendo assim o bambu é um tipo de viscose obtida do bambu, o rayon é outro tipo de viscose feita de celulose regenerada (confere nesse post aqui).

Como essas fibras vêm todas de plantas, são consequentemente biodegradáveis. Muitas vezes a viscose é produzida usando restos de outras indústrias, como descartes da produção do algodão, restos de madeiras, bagaço de laranja de fábricas de sucos, etc. E isso torna ela ainda mais interessante no sentido da sustentabilidade.

Mas ela não é tão perfeita assim. Existem verdades escondidas na produção da viscose, como por exemplo, plantações latifundiárias de arvores não locais para obter a madeira, cultivo abusivo de bambu, que é considerado uma planta praga e agride muito o solo. Além do uso de alguns produtos químicos e solventes que podem não ser muito bem vindos pois aumentam a emissão de carbono durante a produção da fibra além de serem tóxicos.

A opção mais interessante atualmente é o liocel, ele é uma viscose com processo de obtenção e marca registrada pela Lenzing como Tencel. O legal é que o liocel possui um processo de fabricação menos agressivo e ecologicamente correto, com o uso de solventes não tóxicos, baixos níveis uso e poluição de água e ar. E ainda esse solvente é reaproveitado 99,5% durante o processo produtivo, ou seja, não é despejado por ai! Top né? O liocel é obtido a partir de um processo fechado, onde o solvente e a água são praticamente todo reaproveitados. Outra coisa que o Tencel garante é a origem da celulose, de florestas sustentáveis e fornecedores certificados e rastreáveis.


Poliéster

A fibra mais amada e odiada ao mesmo tempo. Famosa por ser barata, não amassar e não precisar ser passada, bem prática para nosso dia a dia. É uma fibra originária do petróleo, consequentemente não biodegradável, mas usa o mínimo de água para sua produção!

Tem que lembrar que tecidos de poliéster são iguais às garrafas PET, canudinhos e etc, vão ficar nos rios, mares e lixões por séculos, e não irão desaparecer, apenas virar micro partículas invisíveis aos olhos mas presentes nas águas e carne dos animais que comemos.

Uma opção é o poliéster reciclado, ele funciona muito bem e tiramos garrafas e canudos do meio ambiente. Lógico que ele não tem a mesma qualidade e durabilidade do original, mas perde por pouco. A única dificuldade de reciclar tecidos de poliéster é que muitas vezes ele não é usado sozinho, então você tem outras fibras ali junto, o que impede a reciclagem.

E cuidado para não se enganar! Você pode escolher a dedo seus tecidos para serem ecologicamente corretos e biodegradáveis, mas a maioria das linhas de costura são de poliéster!…


Seda

Uma das fibras e tecidos mais nobres que existe, delicada, resistente, brilhante, macia, sedosa. É uma fibra natural, ou seja biodegradável, que não precisa de muitos agrotóxicos para ser obtida, nem água. Ela tem origem animal, é produzida pelo bicho da seda, uma lagarta que come folhas de amoreira ou parreira e faz seu casulo. O fio da seda é longo e resistente pois é o fio do casulo, um único e longo fio que a lagarta usou para fazer seu casulo.

Só que para obter esse fio não tem como salvar a lagarta. Pois se ela virar a borboleta e sair do casulo esse lindo e longo fio vai se quebrar em muitas partes e perde seu valor. Para sua informação a obtenção de seda só pode ser feita de animais de cativeiro, os animais silvestres são proibidos de serem usados, eles possuem até um fio mais forte – lei da sobrevivência –  mas seu fio não é uniforme, o que o torna desinteressante para a indústria têxtil. O processo de obtenção do fio da seda é praticamente manual, tem uns equipamentos, mas como é tudo muito delicado, normalmente essas fábricas são pequenas e mais artesanais.

Mas a pupa (fase da lagarta dentro do casulo quando ela morre) não é desperdiçada, ela é uma iguaria na China, mas na maioria das vezes é triturada e usada como ração para outros animais ou fertilizantes. Existe também uma seda de segunda qualidade, que usa as fibras menores ou rompidas dos casulos, elas são normalmente misturadas com outras fibras para agregar valor e qualidade aos tecidos, tornando esse tipo de material um pouco mais acessível.


Você chegou até aqui? Realmente está interessado em conhecer fibras mais sustentáveis para seus projetos! Tem muita coisa acontecendo nessa indústria, novidades surgem sempre, por isso é importante estar sempre se atualizando. Uma das premissas atuais da indústria da moda é a sustentabilidade e ética, mas não só no marketing ou da boca para fora, algo duradouro. E a indústria têxtil esta se esforçando para conseguir fornecer esse tipo de produto.

E muito da costura sustentável vem de como cuidamos de nossas roupas acabadas. Mesmo que os tecidos sustentáveis de preço mais alto estejam fora de alcance, uma camisa lavada à mão versus outra jogada em uma lavadora e uma secadora quente é um excelente passo na direção certa. Remendar, cerzir e cuidar das costuras com pontos duplos e do acabamento adequado das costuras pode reduzir a pegada de carbono total de uma peça de vestuário.

Quer aprender a costurar suas peças? Confere como!

A sustentabilidade é um espectro, e cada pequeno movimento que você faz vale a pena comemorar – seja vasculhar um brechó em busca de cortinas que logo serão calças ou ousar com algum algodão orgânico luxuoso.

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